As principais Gírias usadas nos Presídios
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Bianca Fernandes
9/28/20234 min read


A cultura criada no ambiente prisional tem vários aspectos a serem analisados, mas com certeza o que mais chama a atenção é a linguagem utilizada para comunicação entre os apenados.
Para quem atua na área criminal, é imprescindível conhecer algumas das gírias utilizadas pela pessoa presa. Não para aderir a essa linguagem, mas sim para compreender o que de fato o preso (ou familiar dele) está nos contando e principalmente, o que ele quer.
Logo nos meus primeiros atendimentos a pessoas presas e seus familiares, eu ficava muito confusa, pois, as gírias aqui informadas são utilizadas por eles como vocabulário básico. Por exemplo, imagine ouvir a seguinte frase:
“Abracei a bronca pelo fulano, que tava de embolamento na minha galeria. Por causa disso, tenho que puxar mais 1 ano por essa bronca, porque eu cai nessa. Caguetei o ciclano e agora eu preciso do seguro e uma viagem. A senhora consegue?”
O que??!!
É assim que alguns atendimentos acontecem, temos que decifrar certos termos, traduzindo-os para a nossa realidade. Quanto mais tempo a pessoa passa presa, com mais frequência utilizará essa comunicação.
A cultura prisional pode ser entendida como uma realidade paralela à sociedade. Ela é um mundo à parte, com suas próprias regras e valores. Os detentos que vivem nessa realidade são obrigados a se adaptar a ela, aderindo à cultura existente naquela casa prisional.
No ambiente carcerário, os detentos são privados de seu pertencimento à sociedade, passam então a criar a sua própria comunidade. Essa cultura surge como uma forma de os detentos se adaptarem a essa nova realidade e sentirem a sensação de pertencimento à essa comunidade. Ela fornece um novo conjunto de valores, crenças e linguagem.
Por essa razão, posteriormente, em liberdade, é tão difícil a pessoa presa se readequar à vida em sociedade, pois, precisa se desfazer de tudo que aprendeu no cárcere para ser introduzido novamente a essa nova realidade que é viver em sociedade, fora dos muros da prisão.
Vamos analisar algumas das gírias mais utilizadas nas casas prisionais:
PUXAR CADEIA
Cumprimento de pena imposta pelo juiz.
Exemplo:
“Eu puxei cadeia lá no Central e Charqueadas”
BARRACO
Cela do preso, lugar onde ele passa a morar, na companhia de outros detentos.
BRONCA
Crime cometido, problema de ordem legal ou disciplinar.
Exemplo:
“Uma das minhas broncas ainda tá com o juiz.”
ABRAÇAR
Assumir a culpa de outra pessoas.
Exemplo:
“Abracei pelo fulano.”
“Aquele lá não abraça nem a mãe dele.”
CAIR
Ato de ser preso. Ou, ainda, redução de pena.
Exemplo:
“Eu cai preso em 2022.”
“Minha pena de 7 anos caiu pra 3.”
ABRIR
Fuga do presídio.
Exemplo:
“Em me abri da cadeia ano passado.”
JUMBO/SACOLA
Itens (comida e higiene) levados para o preso, pela família.
CUNHADA
Companheira do outro apenado.
TALARICO (A)
Quem se envolve afetivamente ou sexualmente com esposa (o) ou companheira (o) de preso.
PEDIR SEGURO
Recorrer à administração da prisão e solicitar que seja protegido dos demais presos, sendo colocado em outro lugar.
VIAJAR/BONDE
Pedir transferência de um presídio para outro.
EMBOLAMENTO
Conspirar com outros presos para fazer algo.
JEGA
Cama, lugar onde o preso dorme.
DORMIR DE VALETE
Significa superlotação. Quando dois detentos precisam dormir na mesma cama de solteiro ou no chão, em posição invertida por falta de espaço.
BOI
É o vaso sanitário, utilizado para as necessidades básicas.
LIGA
Cadastramento de visita (normalmente esposa, companheira) ou concessão para trabalhar em algum setor da casa prisional, tornando-se um preso trabalhador.
Lili
Liberdade. Alvará de soltura.
Caguetar
Informar nome de um preso ou criminoso que praticou determinado crime ou infração.
Maria Louca
Bebida alcoólica feita na própria cadeia, utilizando-se determinadas frutas, que devido a fermentação, tornam-se alcoólicas.
É interessante verificar como as pessoas aderem rapidamente e facilmente a costumes, ritos ou linguagens, quando são introduzidos em certas comunidades.
No que se refere a cultura prisional, comumente vemos agentes penitenciários, familiares e advogados aderindo a alguns dos termos comunicados aqui, pois, de certa forma, estão inseridos também nessa comunidade e acabam naturalizando tal comportamento.
Ainda, é muito importante verificarmos que muitas das gírias que muitos de nós, que nunca fomos presos, utilizamos tiveram origem em casas prisionais, como por exemplo:
- Bóia/Rango/Grude/Gororóba (comida)
- X9, alcaguete (dedo-duro)
- telefone/Concha (tapa na orelha)
- Rolê (dar uma volta)
- Juntar os pés (morrer)
- Ligado (atento)
- Dormir de touca (marcar bobeira)
- Dar as caras (comparecer no fórum)
- Cupicha (companheiro, amigo)
- Chupar bala (distraído), etc...
O ser humano é um ser social que necessita de pertencimento. A partir do momento em que nascemos, somos inseridos em uma cultura que nos fornece um conjunto de valores, crenças e práticas que nos orientam na vida. Essa cultura nos ajuda a nos sentirmos parte de algo maior, nos dá um senso de identidade e nos fornece um sentimento de segurança.
Portanto, conforme pode ser percebido, no ambiente carcerário não é diferente. Importante salientar de igual forma que a maneira de comunicar certos termos varia de localidade para localidade. Isso porque, cada Estado tem a sua cultura e os detentos são resultado dessa cultura geral, podendo certas gírias terem diferentes significados em cada cidade ou estado do Brasil.